Exposição “Cisterna — Ritmos e Arritmias da Poética Têxtil

Tomando como âncora o projeto internacional Cartografias Têxteis, iniciativa da Associação de Professores de Expressão e Comunicação Visual (APECV) e grupo de investigação GriArCE (2021), o qual articula práticas artísticas, investigação participativa e processos colaborativos para explorar memórias, identidades e narrativas territoriais por meio do têxtil, o mesmo insere-se e expande-se agora enquanto linha de investigação no âmbito de um projeto  intitulado Programação e intervenção social pelas artes no ensino superior: ensaios interdiscursivos (PIAES). Com epicentro em Leiria, o projeto reforça a intervenção em contextos de arte comunitária, valorizando o potencial dos têxteis como suporte para a expressão cultural e social.

Desde setembro de 2024 que este projeto inter politécnicos conecta comunidades locais, artistas e educadores em processos de cartografia afetiva e sensorial, onde os tecidos se tornam suportes de histórias individuais e coletivas. Os participantes são convidados a bordar, tecer, costurar ou manipular materiais têxteis, criando composições que refletem experiências de vida, ancestralidade, deslocamentos e pertencimento. Para além da realização das peças que compõem a exposição Cisterna: Ritmos e Arritmias da Poesia Têxtil, todo o projeto contou com a vertente de cocriação nas tomadas de decisão quanto à expografia e design de espaços, bem como às opções para a mediação da exposição. Concordamos com Helguera (2011) em Education for Socially Engaged Art, que a colaboração genuína na educação artística requer uma “deslocalização” de poder, onde professores e alunos se tornam coautores do processo, negociando significados, decisões e formas de apresentação num espaço de reciprocidade e aprendizagem mútuo.” Este paradigma permite que eventos organizados como esta exposição se tornem mais do que uma mera mostra objetual de resultados, transformando-se em espaços de diálogo, troca e construção coletiva de significados. Ao adotar uma relação horizontal entre professores e alunos, a exposição passa a ser também um processo cultural vivo, onde as decisões curatoriais, temáticas e estéticas são co-construídas pelos participantes.

Dessa forma, o evento não apenas valida o percurso formativo, mas também fortalece a ligação com a comunidade, criando um ambiente onde diferentes vozes e experiências se cruzam. Esse envolvimento amplia o impacto social da exposição, consolidando-a como um elo de coesão comunitária, onde a arte não é apenas apresentada, mas sim vivenciada e ressignificada coletivamente. Assim, o evento assume um papel mais profundo: não apenas celebrar os resultados alcançados, mas promover um sentido de pertencimento e continuidade cultural, estreitando laços entre os participantes e o território ao qual pertencem.

Filipa Rodrigues