O projeto Desafios da Contemporaneidade e do Futuro nasce no seio das bibliotecas e da sua preocupação em considerar como prioritária a tarefa de mediar os saberes. O projeto consiste em disponibilizar em cada uma das nossas bibliotecas bibliografia e filmografia relevante para a comunidade académica pensar os grandes problemas do nosso tempo. Em simultâneo, pretende também promover exposições e oficinas do conhecimento dedicadas às obras disponibilizadas.
Os títulos disponíveis são indispensáveis ao estudo, à compreensão e à reflexão dos desafios que marcam a atualidade e que são transversais às áreas do saber, como sejam: a ecologia, as alterações climáticas, os mares, a economia e as suas novas abordagens como a circularidade e a sustentabilidade, segurança alimentar, saúde pública e a articulação entre a estética, a ética e a política nas artes e na literatura, entre outros temas.
A especialização e a separação das várias áreas do saber, que tem as suas raízes mais longínquas na modernidade, conheceu no século XIX a sua mais dilacerante separação: as humanidades e as artes separam-se das ciências da natureza. Como resultado, temos a timidez das primeiras em descodificar as ciências e as tecnologias, e estas por sua vez avançam no sentido de responder ao mercado e ao estado, conquistando um tipo de prestígio enquadrável dentro de uma “visão apresada da eficácia” nas palavras de Ortega y Gasset no seu livro Missão da Universidade de 1930.
Nesta obra, o autor diz-nos que “não há remédio: para andar com acerto na selva da vida, há que ser culto, há que conhecer a sua topografia, as suas rodas ou “métodos”; isto é, há que se ter uma ideia do espaço e do tempo em que se vive, uma cultura atual.” (Gasset, 1930:5)
Aqui evidencia-se bem o risco de trocarmos a cultura por uma visão apressada da eficácia, e da especialização. E esse é o principal desafio do ensino superior, porque não se pode esgotar nas competências técnicas, mas deve sobretudo fornecer uma ideia do espaço e do tempo em que se vive numa cultura atual. Viriato Soromenho-Marques numa conferência que versava as Universidades na Era da Transformação Climática, defende estas ideias, citando Ortega y Gasset e propondo-nos uma refundação de uma Universidade unida pelo cuidado da Terra.
A constituição do acervo bibliográfico e filmográfico dos “Desafios da Contemporaneidade e do Futuro” estará sempre em progresso e será caracterizado pela instabilidade própria dos que procuram o fio, ou dos fios que melhor fazem as ligações entre saberes e acontecimentos.
O critério será aferir continuamente as obras que melhor defendem os pontos de vista mais completos para responder ao desafio do mundo que herdámos, e aquele que queremos dar a herdar. Essa tarefa implica conseguir perceber de modo mais completo quanto possível como se ligam hoje as várias crises que nos dominam na atualidade: a ecológica, climática, de saúde pública, energética, alimentar, mares, das migrações, económica, dos valores etc…
Precisamos de pensamento nos dê uma dimensão literária cultural que ligue as várias áreas do saber, e que nos ajude hoje a ter pensamento orientador da nossa ação no mundo.
