Mosaico Poético, é um projeto que nasce no seio das bibliotecas e da sua preocupação em constituir uma comunidade de leitores que considerem a leitura atenta e o valor das palavras na sua articulação plástica, como um dos seus desígnios fundamentais. Porque não há pensamento sem linguagem, também não há dimensão literária cultural sem poesia. A poesia subsiste ainda como um dos exercícios críticos da liberdade, mais fortes e perfeitos para ligar os opostos, descobrir novas possibilidades para o eu, o outro, ou até uma comunidade inteira que há de vir.

A poesia lembra-nos que as palavras têm um poder que nos afeta no âmago das nossas conceções, no sentido das nossas emoções ou no contexto das nossas perceções. A aspereza, o combate e a pobreza da linguagem finalística do dia a dia, faz por vezes esquecer a densidade histórica do nascimento de cada palavra, dos seus múltiplos usos, no tempo, nos tempos, nas várias civilizações, geografias ou línguas. No dia a dia, a articulação das palavras entre si coloca-nos frequentemente no beco sem saída da “eficácia”. Assim consideradas, as palavras não engendram nem possibilidade, nem liberdade, somente semelhança e repetição. Cada poema bem-sucedido é um corpo que não admite ser desmontado nos seus componentes, se o fizéssemos perderíamos o seu ensinamento fundamental, a anima de uma expressão que ultrapassa a ânsia em comunicar.

A escolha dos textos lidos para a câmara de filmar pelos Artistas Unidos ficou a cargo do Poeta Luís Filipe Castro Mendes e Encenador Jorge Silva Melo. A escolha dos poemas lidos pelos nossos estudantes de teatro ficou a cargo do ator Diogo Dória que sempre considerou fundamental para o ator o exercício da leitura.

Jorge Silva Melo teve de conhecer forçosamente o valor da leitura, de todas as leituras, para cumprir exemplarmente o duro ofício da escrita, da encenação e da realização fílmica. Talvez a prazerosa leitura de poemas tivesse sido para ele uma forma arguta de escavar o espaço e o tempo das palavras insufladas pelo corpo em direção ao outro, a ti. Luís Filipe Castro Mendes é um poeta profundamente conhecedor dos textos, não fosse a sua obra estar desde sempre ancorada na autorreflexão e interrogação sobre o mister do fazer poético.

A seleção dos textos experimenta o valor da afinidade, porque foi pensada para os nossos estudantes do Politécnico de Leiria. Johann Goethe no seu livro As Afinidades Eletivas, lembra-nos que o homem sonha apenas para não cessar de ver. É preciso criar espaço para além do opressivo do dia a dia. A escolha dos poemas apresentados no projeto “Mosaico Poético” procuraram claramente vincular as leituras a um caminho de procura pela afinidade para com o seu público. Em cada poesia proposta encontramos uma preciosa ideia do espaço e do tempo em que vivemos. 

Encontramos também as duas grandes referências poéticas do nosso lugar, é o caso de D. Dinis com o seu poema Flores de Verde Pinho ou Rodrigues Lobo com o seu poema premonitório Formoso Tejo Meu. A estes juntam-se para oferecer outras possibilidades ao intelecto e à sensibilidade os poemas de: Camões, Sá de Miranda, Antero de Quental, Camilo Pessanha, Cesário Verde, Álvaro de Campos, Mário de Sá Carneiro, Vitorino Nemésio, Mário Cesariny, Eugénio de Andrade, Alexandre O’ Neill, António Ramos Rosa, Jorge de Sena, Sophia de Mello Breyner Andresen, Fiama Hasse, Fernando Assis Pacheco, Henrique Fialho, Adília Lopes, Jaques Roubaud, Ruy Belo, Machado de Assis, Herberto Helder e Daniel Kraus.