A história colonial nos seus mais diversos aspetos é hoje bem conhecida. Como se sabe, os colonialismos de origem europeia têm tido consequências duradoras para os Estados independentes. Parte dos problemas políticos, económicos e ambientais em vários Estados ex-colonizados estão relacionados com as características do Estado colonial e os seus legados. As literaturas oriundas destes Estados nascidos das lutas anticoloniais têm prestado especial atenção a estas questões, nomeadamente ao representarem estas sociedades como tendo estruturas políticas profundamente enraizadas no modelo de Estado importado pelo colonizador europeu. Um desses exemplos é a obra do escritor angolano Pepetela. Nesta palestra, propomos discutir como Pepetela retrata o Estado pós-colonial nalguns dos seus romances. Ao longo de várias décadas e de maneira coerente, o escritor revisita o passado colonial para desenhar na ficção os contornos de um Estado importado complexo, heterogéneo, evidencia da ocidentalização da ordem política, para utilizar a expressão de Bertrand Badie ([1992], 2017).
Fabrice Schurmans, nascido em Liège, doutorado pela Universidade de Coimbra, é investigador no Centro de Estudos Sociais. As suas publicações incidem sobre literaturas pós-coloniais numa perspetiva comparada e interdisciplinar e questões teóricas pós-coloniais (e.g. tradução, fronteira, identidade). Publicou dois livros, Michel de Ghelderode. Un tragique de l’identité (2011) e O Trágico do Estado Pós-colonial. Pius Ngandu Nkashama, Sony Labou Tansi, Pepetela (2014), bem como artigos, capítulos, entradas de dicionários e recensões. Publicou recentemente Les Délaissés (coletânea de contos, 2023), Moloch Academik (novela, 2023), Paris perdus (contos, 2024). O seu romance Galerie de monstres sairá no início de 2025. A sua peça Les Passages Houdin ganhou o Prémio Aristophane 2024.